Folhei aleatoriamente um livro de Gilberto Freyre e vi o texto que reproduzo abaixo. Ele apresenta uma faceta impressionante, eugenismo/ arianismo, do barão do Rio Branco, que hoje é nome de ruas, avenidas e escolas em quase todas as cidades do Brasil. Um herói. Qual é o peso do legado deste heroismo? (Claro, aqui esta é apenas uma questão retórica).
Bem, abaixo um recorte do texto de Gilberto Freyre:
Do barão do Rio Branco se sabe que, escolhido pela República para ser ministro dos Negócios Estrangeiros do Brasil, ocupou esse cargo, inteligentemente atento a aspectos da representação brasileira no estrangeiro que sua longa residência na Europa lh ensinara serem de importância para a afirmação de prestígio de uma nação ainda jovem em formação, entre as antigas e plenamente maduras. Entre esses aspectos, a aparência dos diplomatas que, a seu ver, deviam ser eugênicos, altos, bem-apessoados, representando o que a 'raça' brasileira em formação tivesse já de melhor; e esse seu cuidado pela aparência de diplomatas brasileiros no estrangeiro levou-o ao excesso arianista de quase sistematicamente incluir entre aquelas virtudes eugênicas, que exigia dos candidatos à representação do Brasil no exterior, o aspecto caucásico dos indivíduos. Que fossem brancos ou quase brancos - quase brancos como Domício da Gama, por exemplo: quase outro Nabuco na distinção do porte e das maneiras - de bem-nascidos, bem-criados e bem-educados. E não só isso: casados com senhoras que fossem também, se não sempre belas, o mais possível elegantes no porte e no trajo, além de brancas ou quase brancas; e falassem o seu francês ou o seu inglês razoavelmente bem. Esta caracterização do segundo Rio Branco como homem atento a pormenores de ordem eugênica, estética e étnica, na escolha de enviados do Brasil ao estrangeiro, baseia-se em informações orais que nos foram transmitidas pelo seu sobrinho, e nosso amigo, já falecido, Pedro Paranhos Ferreira, nascido em 1875; e que foi na mocidade tratado pel Barão quase como se fosse um dos filhos; admitido à sua intimidade; contagiado pela sua tendência para expandir-se, sempre que a discrição inerente ao cargo diplomático o permitisse, de gourmet em gourmet, tanto quanto por algumas das suas ideias menos ostensivas porém mais constantes: uma delas, a de terem deixado os portugueses de ser um povo admirável, ao qual muito devia o Brasil, para viverem na vizinhança do ridículo, à semelhança de vários dos sul-americanos. Desse ridículo é que era uma das preocupações do Barão livrar o Brasil, para que as afirmações do progresso brasileiro sob a República - pelo seu gosto, não se teria dado a substituição do Império pela República de 89 - se fizessem dentro de uma ordem que, além de social e também ética, em geral, fosse estética, em particular; e incluísse o comportamento, a aparência, o aspecto dos brasileiros incumbidos da missão, para ele quase sagrada, de representarem o Brasil na Europa.
In "Ordem e Progresso", Gilberto Freyre
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