terça-feira, 26 de agosto de 2014

Pequena cidade...

Alguns romances começam com belas descrições de espaços onde os dramas dos personagens se desenvolverão. Memória da Casa dos Mortos; Os Noivos; O Vermelho e o Negro, são alguns poucos exemplos. A seguir reproduzimos as frases iniciais de "O Vermelho e o Negro" de Stendhal, ou, singelas descrições iniciais de um grande romance.

"A pequena cidade de Verrières pode passar por uma das mais bonitas do Franco-Condado. Suas casas de tetos em ponta, de telhas vermelhas, se estendem pela encosta de uma colina, cujas menores sinuosidades são marcadas por tufos de vigorosos castanheiros. O Doubs corre a algumas centenas de pés abaixo das suas fortificações, construídas, outrora, pelos espanhóis, e hoje em ruínas.
Verrières é abrigada, do lado do norte, por uma alta montanha; é um dos ramais do Jura. Os cimos alcantilados do Verra cobrem-se de neve desde os primeiros frios de outubro. Uma torrente que se precipita da montanha atravessa-a antes de lançar-se no Doubs e dá força motriz a grande número de serrarias; é uma indústria muito simples e que proporciona certo bem-estar à maior parte dos habitantes, mais camponeses do que burgueses."

Língua-mar

Língua-mar é um belo poema do escritor cearense Adriano Espínola, publicado no seu livro "Beira-Sol".

A língua em que navego, marinheiro,
na proa das vogais e consoantes,
é a que me chega em ondas incessantes
à praia deste poema aventureiro.
É a língua portuguesa a que primeiro
transpôs o abismo e as dores velejantes,
no mistério das águas mais distantes,
e que agora me banha por inteiro.
Língua de sol, espuma e maresia,
que a nau dos sonhadores navegantes
atravessa a caminho dos instantes,
cruzando o Bojador de cada dia.
Ó língua-mar, viajando em todos nós.
No teu sal, singra errante a minha voz.