domingo, 2 de abril de 2023

Um rio chamado Titas

"Por causa de seus próprios erros/ Você perdeu tudo/ A quem você vai culpar por esta dor?/ Minha querida, não chore mais".

Vivendo em uma vila às margens do rio Titas, em uma comunidade que se encontra entre a extrema pobreza e a miséria, a jovem viúva Basanti (Rosy Samad) representa a sobrevivência e a resistência à exploração secular experimentada por famílias de humildes pescadores.


O filme "Um rio chamado Titas", foi dirigido por Ritwik Ghatak (Índia/Bangladesh, 1973) tendo sido recuperado pelo The Film Foundation, no World Cinema Project, de Martin Scorsese (esse projeto tenta recuperar importantes obras de diversos países). Trata-se de um filme que é baseado num livro com o mesmo nome, escrito por Adwaita Mallabarman.


A viúva Basanti ajuda uma mulher com seu filho, que fora sequestrada logo após o seu casamento e agora procurava na vila de pescadores o seu marido perdido há dez anos. Mas este fica louco após o sequestro de sua esposa. Quando num momento de lucidez consegue reconhecê-la, eles são atacados e mortos, deixando o filho Ananta órfão. 


Comovida com a sorte de Ananta, Basanti cuida da criança por algum tempo, mas a pressão de sua família a obriga a abandonar o órfão que se muda para uma cidade maior a fim de lutar por sua sobrevivência. Mas a pressão sobre os moradores da vila tem origem na exploração de ricos agiotas de classes mais ricas, que não se importam em roubar até o último utensílio e a rede de pesca dos humildes habitantes.


Basanti se revolta com as muitas injustiças, mas num mundo onde a exploração está naturalizada é difícil convencer outras pessoas a se rebelarem. Além de tudo isso tem os traidores pobres, como o tio de Basandi. "Ele se vendeu. Os ricos o transformaram em ator, e lhe deram medalhas". Ao ouvir estas palavras de um velho da comunidade, o tio dá uma risada e se retira (lembrei-me do nosso pobre Brasil). 


Mas o filme termina com uma ideia de esperança. Uma criança corre alegremente tocando uma corneta, conseguindo arrancar um sorriso de Basanti que encontrava-se à beira da morte. Uma alegoria da Índia e de Bangladesh que se erguem das cinzas deixadas pelo Império Britânico? Quem saberá?