quinta-feira, 4 de maio de 2017

O caos institucional


O país há um certo tempo vive um caos institucional. Um juiz de primeira instância que divulga áudio da presidenta da República e em vez de ser preso é alçado à condição de herói; um estrangeiro que assume a presidência da Câmara dos Deputados; um golpe parlamentar autorizado pelo Supremo Tribunal; um senador que não aceita convocação da justiça; um juiz do Supremo Tribunal que se confraterniza com réus; pessoas presas preventivamente por mais de dois anos; sonegação legalizada de bancos e grandes empresas; programas sociais destruídos e o aumento avassalador da miséria... São várias facetas de uma mesma realidade triste, criada à força por uma elite corrupta e egoísta. Como se chegou a esse ponto? No futuro talvez seja até fácil se compreender. Mas enquanto não se chega lá, a leitura de alguns textos poderá lançar luz no problema. Antes de conseguirmos fazer uma descrição precisa do todo, a luz vai nos permitindo enxergar detalhes assustadores do monstro que foi criado. E Luis Nassif foi bastante feliz no seu texto 'Xadrez da subversão do Supremo Tribunal Federal', escrito no seu sítio GGN em 04/05/2017.  Uma leitura fundamental.



terça-feira, 2 de maio de 2017

O passado nunca mais

"E isso é passado. Quando o sol se põe à tarde, quem poderá chamá-lo de volta para viver o mesmo dia novamente? Não existe retorno; nenhum momento pode ser recuperado. Afaste seu coração para longe do que se foi." Mahabharata

Caminhando por uma pequena vereda fria com o vento da montanha soprando em latitude temperada. Solitário, pensativo, recordando das falas dos boçais que preparam armadilhas sucessivas para o povo que procura no máximo um emprego miserável, semiescravidão com as reformas das leis trabalhistas que deixarão o miserável mais vulnerável e o capitalista  com mais mecanismos para acumução. Caminhando com o pensamento em América Latina, unidade latinoamericana, alucinações, angústias e um sol tropical. Caminhando por uma vereda trilhada por Belchior, cujos passos ficaram no passado.

Viva Belchior! Belchior, que não se adaptou à engrenagem da grande mídia - representada por grandes empresas cujo objetivo principal é a exacerbação dos processos de acumulação do capital e que trava uma guerra contra a democracia, atacando o direito da maioria da população, apoiando a desnacionalização da economia e a transferência da riqueza do país para os capitalistas internacionais através de corruptos contumazes - deu uma lição de vida com o seu silêncio dos últimos anos. Como homenagem a este grande poeta, que não se deixou seduzir pela facilidade da adaptação ao sistema, deixamos a sua reflexão sobre os 500 anos da chegada dos europeus ao continente americano. Uma questão de injustiça que quando pensamos que está sendo solucionada, vem a covardia e a traição para regredirmos décadas de humildes avanços. Então: Quinhentos anos de que?

"Eram três as caravelas que chegaram d`alem mar. e a terra chamou-se América por ventura? por azar?

Não sabia o que fazia, não, D. Cristóvão, capitão. Trazia, em vão, Cristo em seu nome e, em nome d`Ele, o canhão.

Pois vindo a mando do Senhor e de outros reis que, juntos, reinam mais... bombas, velas não são asas brancas da pomba da paz.

Eram só três caravelas... e valeram mais que um mar. Quanto aos índios que mataram... ah! ninguém pôde contar.

Quando esses homem fizeram o mundo novo e bem maior por onde andavam nossos deuses com seus Andes, seu condor ?

Que tal a civilização cristã e ocidental... Deploro essa herança na língua que me deram eles, afinal.

Diz, América que és nossa só porque hoje assim se crê. Há motivos para festa? Quinhentos anos de que?"


Referência:
[1] A citação inicial é da obra Mahabharata, na versão de Ramesh Menon. Nela, a deusa Ganga fala para o príncipe Shantanu: "And that is past. When the sun sets on one day, who can call him back so you can live the same day again? There is no returning; not a moment may we retrieve. Turn your heart away from what is over".