segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Lua cheia

Hoje é uma lua cheia absurdamente brilhante, com sua luz que penetra as casas, as salas, passando pelas frestas do telhado em cuja casa dorme, exausta, a incompreensão sobre a vida. Uma rápida lembrança de Augusto dos Anjos através do seu poema Ao luar, na obra centenária "Eu".

Quando, à noite, o Infinito se levanta
À luz do luar, pelos caminhos quedos
Minha táctil intensidade é tanta
Que eu sinto a alma do Cosmos nos meus dedos!

Quebro a custódia dos sentidos tredos
E a minha mão, dona, por fim, de quanta
Grandeza o Orbe estrangula em seus segredos,
Todas as coisas íntimas suplanta!

Penetro, agarro, ausculto, apreendo, invado,
Nos paroxismos da hiperestesia,
O Infinitésimo e o Indeterminado...

Transponho ousadamente o átomo rude
E, transmudado em rutilância fria,
Encho o Espaço com a minha plenitude!