sábado, 23 de abril de 2016

Hienas atacam o Brasil

O dia 17 de abril de 2016 ficará marcado para sempre pela ultrajante atitude perpetrada pela Câmara dos Deputados ao aprovar a admissibilidade de crime de responsabilidade da Presidenta Dilma Rousseff e encaminhar a análise de impedimento ao Senado Federal. A referida sessão da Câmara pode ser vista como uma peça mal escrita, encenada por atores medíocres que fremiam e tremiam no palco (Macbeth com o seu dedo em riste) enquanto vomitavam no público indisfarçáveis hipocrisias.  

Deputados reconhecidamente envolvidos em crimes de lavagem de dinheiro e desvio de verbas públicas votando contra a corrupção. Desprezíveis acompanhantes de prostitutas oferecendo votos para as esposas e os filhos. Contumazes achacadores e ladrões votando em nome de Deus e da ética. Como disse a deputada do PCdoB-AP, Professora Marcivânia, nunca se viu tanta hipocrisisa por metro quadrado quanto naquela sessão circense.

Muito foi escrito sobre aquela tarde triste. Escolhi para deixar registrado nesse blog, que apresenta textos de literatura e história, um escrito de Pepe Escobar, escrito originalmente para o Resistir.Info. O título é “Guerra híbrida das hienas dilacera o Brasil” e, com exceção do que o autor escreve sobre a Dilma gestora – que não concordo absolutamente – acredito que é um texto que mostra bem os interesses escondidos na farsa do impedimento. Isso é o que conseguimos enxergar hoje, apenas seis dias após o golpe ter sido dado.
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Guerra híbrida das hienas dilacera o Brasil 
Pepe Escobar

A sombria e repulsiva noite em que a presidente da 7ª maior economia do mundo foi a vítima escolhida para um linchamento de hienas num insípido e provinciano Circo Máximo viverá para sempre na infâmia.Por 367 votos a 137, o impeachment/golpe/mudança de regime contra Dilma Rousseff foi aprovado pelo circo parlamentar brasileiro e agora irá ao Senado, onde uma “comissão especial” será instituída. Se este for aprovado, Rousseff será então marginalizada durante 180 dias e um ordinário Brutus tropical, o vice-presidente Michel Temer, ascenderá ao poder até o veredito final do Senado.

Esta farsa desprezível deveria servir como um alerta não só aos BRICS, mas a todo o Sul Global.Quem é que precisa de NATO, R2P (“responsability to protect”) ou “rebeldes moderados” quando pode obter a sua mudança de regime apenas com o ajustamento do sistema político/judicial de um país?

O Supremo Tribunal brasileiro não analisou o mérito da questão – pelo menos ainda não.Não há qualquer evidência sólida de que Rousseff tenha cometido um “crime de responsabilidade”. Ela fez o que todo presidente norte-americano desde Reagan tem feito – para não mencionar líderes de todo o mundo: juntamente com o vice-presidente, o desprezível Brutus, Rousseff foi ligeiramente criativa com os números do orçamento federal.

O golpe foi patrocinado por um vigarista certificado, o presidente da câmara baixa Eduardo Cunha, confirmadamente possuidor de várias contas ilegais na Suíça, listado nos Panama Papers e sob investigação do Supremo Tribunal. Ao invés de reger hienas quase analfabetas num circo racista, em grande medida cripto-fascista, ele deveria estar atrás das grades. Custa crer que o Supremo Tribunal não tenha lançado ação legal contra Cunha.

O segredo do seu poder sobre o circo é um gigantesco esquema de corrupção que perdura há muitos anos, caracterizado pelas contribuições corporativas para o financiamento das suas campanhas e de outros. E aqui está a beleza de uma mudança de regime light, uma revolução colorida da Guerra Híbrida, quando encenada numa nação tão dinamicamente criativa como o Brasil. A galeria de espelhos produz um simulacro político que teria levado descontrucionistas como Jean Braudrillard e Umberto Eco, se vivos fossem, a ficarem verdes de inveja.

Um Congresso atulhado com palhaços/tolos/traidores/vigaristas, alguns dos quais investigados por corrupção, conspirou para depor uma presidente que não está sob qualquer investigação formal de corrupção – e que não cometeu qualquer “crime de responsabilidade”.

A restauração neoliberal

Ainda assim, sem um voto popular, os maciçamente rejeitados gêmeos Brutus tropicais, Temer e Cunha, descobrirão que é impossível governar, muito embora eles encarnassem perfeitamente o projeto das imensamente arrogantes e ignorantes elites brasileiras.

Um triunfo neoliberal, com a “democracia” brasileira espezinhada abaixo do chão. É impossível entender o que aconteceu no Circo Máximo neste domingo sem saber que há um rebanho de partidos políticos brasileiros que está gravemente ameaçado pelos vazamentos ininterruptos da Lava Jato.

Para assegurar a sobrevivência deles, a Lava Jato deve ser “suspensa”; e isto será feito sob a falsa “unidade nacional” proposta pelo desprezível Brutus Temer. Mas antes a Lava Jato deve produzir um escalpe ostensivo. E este tem de ser Lula na prisão – comparado ao qual a crucificação de Rousseff é uma fábula de Esopo. Os media corporativos, conduzidos pelo venenoso império Globo, saudariam isto como a vitória final — e ninguém se preocuparia com a aposentadoria da Lava Jato.

Os mais de 54 milhões que em 2014 votaram pela reeleição de Roussef votaram errado. O “projeto” global é um governo sem voto e sem povo; um sistema parlamentar de estilo brasileiro, sem aborrecimentos com “eleições” incômodas e, crucialmente, campanhas de financiamento muito “generosas” e flexibilidade que não obrigue a incriminar companhias/corporações poderosas.

Em resumo, o objetivo final é “alinhar” perfeitamente os interesses do Executivo, Legislativo, Judiciário e media corporativos. A democracia é para otários. As elites brasileiras que fazem o controle remoto das hienas sabem muito bem que se Lula concorrer outra vez em 2018, vencerá. E Lula já advertiu; ele não endossará qualquer “unidade nacional” sem sentido; estará de volta às ruas para combater qualquer governo ilegítimo que surja.

Agora estamos abertos à pilhagem

No pé em que está, Rousseff corre o risco de se tornar a primeira grande baixa da investigação Lava Jato, com origem na NSA [National Security Agency, dos Estados Unidos], que perdura há dois anos. A presidente, reconhecidamente uma gestora econômica incompetente e sem as qualificações de um político mestre, acreditou que a Lava Jato – que praticamente a impediu de governar – não a atingiria porque ela é pessoalmente honesta. Mas a agenda não tão oculta da Lava Jato foi sempre a mudança de regime.

Quem se importa se no processo o país for deixado à beira de ser controlado exatamente por muitos daqueles acusados de corrupção? O desprezível Brutus Temer – uma versão fútil de Macri da Argentina – é o condutor perfeito para a implementação da mudança de regime. Ele representa o poderoso lobby bancário, o poderoso lobby do agronegócio e a poderosa federação de indústrias do líder econômico do Brasil, o Estado de São Paulo.

O projeto neo-desenvolvimentista para a América Latina – pelo menos unindo algumas das elites locais, investindo no desenvolvimento de mercados internos, em associação com as classes trabalhadoras – agora está morto, porque o que pode ser definido como capitalismo sub-hegemônico, ou periférico, está atolado na crise após a derrocada de 2008 provocada por Wall Street.

O que resta é apenas restauração neoliberal, a TINA (“there is no alternative”). Isto implica, no caso brasileiro, a reversão selvagem do legado de Lula: políticas sociais, políticas tecnológicas, o impulso para expandir globalmente grandes companhias brasileiras competitivas, mais universidades públicas, melhores salários.

Numa mensagem à Nação, Brutus Temer admitiu isto; a “esperança” de que o pós-impeachment será absolutamente excelente para o “investimento estrangeiro”, pois lhe permitirá pilhar a colonia à vontade; um retorno à tradição histórica do Brasil desde 1500. De modo que Wall Street, o Big Oil dos EUA e os proverbiais “American interests” vencem este round no circo – graças às, mais uma vez proverbiais, elites vassalas/compradoras.

Executivos da Chevron já estão a salivar com a perspectiva de porem as mãos nas reservas de petróleo do pré sal; que já foram prometidas por um vassalo confiável, integrante da oposição brasileira. O golpe continua. As hienas reais ainda não atacaram. De modo que isto está longe de ter terminado.”


quarta-feira, 13 de abril de 2016

Praça do Ferreira em 02/04/2016

No final do século XIX e começo do século XX existiam quatro restaurantes nas quinas da praça do Ferreira. Segundo o Prof. Nirez Azevedo, no canto noroeste ficava o Café do Comércio; no canto nordeste da praça ficava o Café Java onde o pessoal da Padaria Espiritual se reunia; no canto sudoeste ficava o Restaurante Iracema, onde se encontravam os membros da Academia Rebarbativa, e no canto sudeste da praça, o Café Elegante (na verdade este foi o último a surgir, apenas em 1902). Era uma época em que os homens andavam de paletó e gravata, não necessariamente de black tie, pois o clima não permitia. Mas a praça do Ferreira era um local de encontros, de discussões, de discursos, enfim, um local onde as pessoas podiam expressar democraticamente suas opiniões.

A Bellé époque passou. Os cafés foram derrubados e nunca mais o pessoal da Padaria Espiritual caminhou pela praça. Várias reformas aconteceram durante o século XX...

Mas apesar das mudanças, as pessoas continuaram utilizando a praça como um local de encontro e de discussão. No começo do mês de abril do presente ano, 52 após o golpe militar de 1964, o país passa novamente por uma grande crise política. Trata-se da tentativa da elite brasileira e dos capitalistas da ocasião (e não os acusaria de utilizarem simultaneamente todas as formas de acumulação de riqueza como contrabando, roubo, tráfico, corrupção, empréstimos camaradas de bancos estatais, sonegação de impostos, ciranda financeira, agiotagem oficializada, jogatinas e a maravilhosa mais valia) de voltarem a comandar o país na esfera federal através de um golpe jurídico-midiático. 

Nos treze anos de presidência de Lula e Dilma, uma série de programas sociais foi implementada no país. Estes programas possuem nome e sobrenome: Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida, Fies, ProUni, Pronatec, Sisu, Ciência sem Fronteiras, Programa Luz Para Todos, Samu, Mais Médicos, Rede Cegonha, Brasil Sorridente, Farmácia Popular, Pro Jovem Urbano, Brasil Conectado, Cidades Digitais, Projeto Jovem Aprendiz, Programa Água Para Todos, Brasil Sem Miséria, Aqui Tem Agricultura Familiar, Casa da Mulher Brasileira, entre outros.

Tais programas, que permitiram que, entre outros números impressionantes, 32 milhões de pessoas saíssem da miséria, e que o Brasil deixasse o mapa da fome da ONU, maltratou bastante a classe dominante do país. Através dos meios de comunicação e de parte do judiciário (isso renderá diversas dissertações e teses ao longo de várias décadas) acusou-se o ex-presidente Lula e o partido da presidenta Dilma de estarem atolados em corrupção (palavra mágica que quando gritada e cuspida pela classe média - que inadvertidamente se apropria de um discurso criado pela classe dominante - a um partido político em particular, a faz se sentir diferenciada, pura e santificada). 

Entretanto, observemos com atenção esses dados, os governos de Lula e Dilma criaram diversas ações para combater exatamente a corrupção; outros tiveram oportunidade de fazê-lo e não o fizeram. Em 2003 a Controladoria Geral da União teve seu status elevado a Ministério; em 2004 foi criado o Portal da Transparência; em 2005 foi feita a regulamentação dos Pregões Eletrônicos; em 2008 foi criado o Cadastro de Empresas Inidôneas e Suspensas (CEIS); em 2012 foi aprovada a Lei de Acesso à Informação e em 2013 foi aprovada a Lei Anticorrupção. Vários mecanismos, portanto, foram criados pelos dois presidentes visando combater um dos males que a classe dominante é useira e vezeira em participar. Talvez aí se encontre um dos grandes empecilhos à governabilidade. 

E a governabilidade começou a ser minada por pessoas que ao invés de estarem falando em acabar a "corrupção" (não tem para onde fugir, é um mantra) deveriam estar respondendo pela prática de ações bastante obscuras. Quem se informa por fontes alternativas à grande imprensa familiar tem conhecimento das off-shores de Paulo Henrique Cardoso, filho de FHC; das contas secretas de Aécio Neves e familiares em Liechteinstein; do apartamento em Miami comprado por um ex-juiz do STF através de off-shore nas Ilhas Virgens Britânicas; da mansão de Paula Azevedo Marinho, herdeira da Rede Globo, numa praia em região de preservação ambiental, adquirida também por off-shore. Essas estranhas transações estão todas documentadas. Causam indignação e textos de reprovação - como este - mas, infelizmente, podem ser considerados como filigrana num quadro bem mais complexo. Se preferirmos, podemos dizer que são apenas exemplos da hipocrisia da classe dominante e de alguns de seus representantes.

Hipocrisia que nem original chega a ser. Já no Brasil do século XVII, o padre Antonio Vieira, nos seus famosos sermões, mostrava numa retórica inigualável quão hipócritas eram os donos dos engenhos e os senhores fazendeiros que exploravam o trabalho escravo e semi-escravo durante a semana e no domingo iam ouvir a palavra de Cristo. "Se as galas, as jóias e as baixelas, ou no Reino, ou fora dele, foram adquiridas com tanta injustiça e crueldade, que o ouro e a prata derretidos, e as sedas se se espremeram, haviam de verter sangue; como se há-de ver a fé nessa falsa riqueza? Se as vossas paredes estão vestidas de preciosas tapeçarias, e os miseráveis a quem despistes para as vestir a elas, estão nus e morrendo de frio; como se há-de ver a fé, nem pintada nas vossas paredes? (...) Se as pedras da mesma casa em que viveis, desde os telhados até os alicerces estão chovendo os suores dos jornaleiros, a quem não fazíeis féria, e, se queiram buscar a vida a outra parte, os prendíeis e obrigáveis por força; como se há-de ver a fé, nem sombra dela na vossa casa?" A hipocrisia da classe dominante é uma herança.

A questão básica é que esta mesma classe dominante, além de possuir os meios de produção e os bancos, detém os meios de comunicação e o coração e a mente da maior parte do judiciário. Os exemplos que ilustram esta afirmação são muitíssimos e certamente serão exploradas pelos pesquisadores das áreas de humanas no futuro. Mas tem um caso particular que ainda hoje acho absolutamente inacreditável, o do tal juiz Sérgio Moro, que mandou grampear a conversa de um ex-presidente da República com a atual presidenta. Para ver o absurdo da situação, imaginemos um juiz de uma cidade do Wyoming ordenar a um policial do FBI o grampo de uma conversa entre o ex-presidente Bill Clinton com o atual presidente dos Estados Unidos, Barak Obama, e entregar a gravação no mesmo dia à rede ABC, ou à Fox, e elas divulgarem - participando de um crime contra a Segurança Nacional - no telejornal da noite! Isso nunca aconteceria. Nunca, never, jamais, mai... 

Como consequência, distorcem-se acontecimentos, inventam-se fatos, manipula-se descaradamente a opinião pública escondendo-se crimes que deveriam ser condenados exemplarmente. E condenam-se pessoas sem provas a troco de prêmios fajutos ou aparições ridículas em chamadas ao vivo de telejornais ou em capas de revistas sem nenhuma credibilidade. A verdade dos fatos, infelizmente, parece estar escondida no helicóptero do senador da República no qual foram encontrados os 450 kg de pasta base de cocaína e que a grande imprensa brasileira misteriosamente não noticiou.

Então de um lado há uma presidenta que aposta alto nos programas sociais e no combate à corrupção; e do outro lado há os que têm interesses exatamente antagônicos. Dilma é uma pedra no meio do caminho que precisa ser retirada de qualquer forma, até por golpe, se for preciso. Para perpetrar o golpe final na presidenta eleita com mais de 54 milhões de votos, sem nenhum crime pesando sobre ela, um sujeito condenado pelo STF recebe as bênçãos dos meios de comunicação, dos bancos, das redes de supermercados, de empresas de telefonia, da FIESP, enfim, de todos aqueles que lucram com os mecanismos bem conhecidos de enriquecimento do nosso sistema capitalista. 

Tudo parecia favas contadas. Parecia que o golpe seria inevitável. Mas durante o mês de março de 2016, duas grandes manifestações ocorreram em diversas cidades do país, uma no dia 18 e outra no dia 31, todos falando claramente que no Brasil não há mais espaço para aventuras de malandros que querem alcançar o poder de uma forma absolutamente espúria.

Chegamos, então, no início de abril de 2016 e Lula vem ao Ceará para um comício a favor da democracia e contra o golpe que parte do Congresso, que incrivelmente não está representando os interesses da maior parte da população, pretende perpetrar contra a presidenta Dilma. A acolhedora praça do Ferreira foi o local escolhido para a manifestação daqueles que acreditam no valor de ser governado por alguém que venceu uma eleição legítima através de regras democráticas previamente estabelecidas.

A chuva e a emoção na velha praça do Ferreira marcaram de forma inesquecível o segundo dia do mês de abril. Trabalhadores vindos de várias cidades do Ceará, perfazendo um total de quase 20.000 pessoas assistiram ao discurso de um Lula quase sem voz, mas com muita vontade de defender a decisão popular traduzida no mandato da presidenta Dilma. Entre várias frases, Lula expressou: "E eu às vezes fico vendo televisão, as revistas e os jornais e fico me perguntando por que tanto ódio? Será que é ódio porque a empregada doméstica passou a ter direito neste País? Porque filho de pobre negro da periferia passou a fazer universidade nesse País? Porque em apenas 12 anos geramos 22 milhões de empregos nesse País? Será que é porque durante 12 anos todos os trabalhadores organizados tiveram aumento de salário? Porque nós criamos o FIES e colocamos milhões de jovens na universidade? Por causa do Pronatec, das escolas técnicas, do programa de aquisição de alimentos, do Minha Casa Minha Vida, do Bolsa-Família, do aumento do salário mínimo? Eles precisam explicar poque tanto ódio da primeira mulher que governa este País".

O dia 02 de abril de 2016 ficou definitivamente marcado na história da praça do Ferreira e na história da cidade de Fortaleza. Foi como se as vozes de milhares, milhões de pessoas dissessem aos golpistas de todas as matizes: Não Vai Ter Golpe!




Foto da Praça do Ferreira na manhã do dia 02 de abril de 2016, quando cerca de 30.000 pessoas, juntamente com o ex-presidente Lula e vários políticos protestaram contra o golpe na presidenta Dilma Rousseff. 


Notas:
1. O texto do professor Nirez que serviu de embasamento para o início deste texto foi publicado no "folha DO CENTRO", número 42, setembro de 96.