A guerra de Tróia não produziu apenas a destruição das construções da cidade, como descrito muito bem na Ilíada.
Vidas foram destroçadas: pessoas morreram, mães viram seus filhos serem
mortos, mulheres foram escravizadas. Eurípedes, tentando captar o
espírito da tragédia dos derrotados da guerra de Tróia escreveu a peça
“As Troianas”, que gira em torno de Hécuba, rainha de Tróia, e dos
acontecimentos do pós-guerra. Hécuba, esposa do rei Príamo, era mãe de
dezenove filhos, entre eles Heitor – morto por Aquiles; Páris – que foi o
estopim da guerra sequestrando a bela Helena; Cassandra, que tinha o
dom da profecia, embora seus conterrâneos não acreditassem nela, e que
acabou como escrava e concubina de Agamênon; Polixena, que foi
sacrificada em honra de Aquiles, morto por Páris, entre outros. Num
momento de extrema dor, Hécuba pronuncia as palavras abaixo, de acordo
com a criatividade de Eurípedes:
"Vamos
pobre coitada, ergue do chão a tua cabeça, o teu pescoço. Isso já não é
mais Tróia, nem somos a família real de Tróia. A fortuna varia; sê
brava. Navega com a corrente, navega com o vento do destino. Não
enfrentes com o navio da vida os vagalhões do infortúnio. Ah! Eu choro. E
por que não poderei chorar em minha desgraça? Perdi minha pátria, meus
filhos, meu marido. Ó nobreza, com o teu orgulho espezinhado, nada
queres dizer, afinal de contas.
O que poderei dizer que já não tenha sido dito? Que triste leito em que descanso os membros pesados e doloridos, estirada de costas em uma enxerga tão dura, tão dura! Oh! A minha cabeça, as minhas têmporas, minhas ilhargas! Oh! Que doçura em mudar a posição da espinha dorsal, deixar o corpo descansar de lado, com o ritmo de meus lamentos, de minhas lágrimas incessantes. Esta é a música do sofrimento, o canto fúnebre do sombrio destino.
O que poderei dizer que já não tenha sido dito? Que triste leito em que descanso os membros pesados e doloridos, estirada de costas em uma enxerga tão dura, tão dura! Oh! A minha cabeça, as minhas têmporas, minhas ilhargas! Oh! Que doçura em mudar a posição da espinha dorsal, deixar o corpo descansar de lado, com o ritmo de meus lamentos, de minhas lágrimas incessantes. Esta é a música do sofrimento, o canto fúnebre do sombrio destino.
Ó
proas dos navios, à horrenda convocação das trombetas e à alta gritaria
dos pífaros, viestes impelidas pelos remos velozes sobre a salina água
arroxeada, atravessando os mares calmos de Hélade até a Ílion sagrada, e
na baía de Tróia (ai de mim!) lançastes os vossos cabos, produto do
Egito. Viestes em busca da desprezível esposa de Menelau, aquela afronta
a Castor, aquele escândalo de Eurotas. Foi ela que assassinou o pai de
cinquenta filhos e me lançou a estes tristes escolhos da desgraça.
Ai
de mim! Aqui estou, ao lado das tendas de Agamênon. Levam-me para a
escravidão, uma velha igual a mim, com a cabeça dilacerada pela afiada
lâmina do sofrimento. É demais! Lastimosas viúvas dos guerreiros de
Tróia e vós, virgens noivas da violência, Tróia está fumegante, choremos
por Tróia. Como uma galinha que protege os pintinhos, eu dirigirei os
vossos cantos, ah! Bem diferentes daqueles cantos que eu costumava
dirigir em honra dos deuses, debruçada sobre o cetro de Príamo, enquanto
os meus pés marcavam o ritmo, e começava a dança frígia.”