Hoje comemoramos os 100 anos de nascimento do educador Paulo Freire.
Paulo Freire afirmava que o povo deveria ser reconhecido na sua criatividade, na sua capacidade de produzir conhecimento, de criar arte; aquilo que o movia era uma compreensão crítica da educação, da prática educativa. Ele acreditava na tarefa histórica dos oprimidos libertarem-se a si próprios e aos opressores. Esses últimos precisam que a injustiça não tenha fim para manterem a falsa generosidade. "A ordem social injusta é a fonte geradora, permanente, dessa 'generosidade' que se nutre da morte, do desalento e da miséria".
Para Paulo Freire a conscientização do oprimido possibilita o povo inserir-se no processo histórico como sujeito. A pedagogia tem que enfrentar o dilema do oprimido, querer ser livre e ao mesmo tempo temer a liberdade, entre dizer a palavra ou não ter voz. A superação passa necessariamente pelo reconhecimento de que a realidade opressora lhe impõe um limite. E a luz da consciência é produzida através dos sons e palavras dos fonemas de objetos ligados à vida cotidiana dos camponeses e trabalhadores.
A educação popular, como instrumento da organização social, envolvendo movimentos sociais, pastorais, ONGs, entidades de direitos humanos, tem portanto o objetivo de dar voz e vez aos pequenos e humildes, ampliando os seus direitos e dando autonomia e verdadeira liberdade às pessoas.
Encerro essas brevíssimas linhas com uma pequena reflexão sobre o ensinar, do livro "Pedagogia da Autonomia":
Ensinar exige risco, aceitação do
novo e rejeição a qualquer forma de discriminação É próprio do pensar certo a
disponibilidade ao risco, a aceitação do novo que não pode ser negado ou
acolhido só porque é novo, assim como o critério de recusa ao velho não é
apenas o cronológico. O velho que preserva sua validade ou que encarna uma
tradição ou marca uma presença no tempo continua novo. Faz parte igualmente do
pensar certo a rejeição mais decidida a qualquer forma de discriminação. A
prática preconceituosa de raça, de classe, de gênero ofende a substantividade do
ser humano e nega radicalmente a democracia. Quão longe dela nos achamos quando
vivemos a impunidade dos que matam meninos nas ruas, dos que assassinam
camponeses que lutam por seus direitos, dos que discriminam os negros, dos que
inferiorizam as mulheres. Quão ausentes da democracia se acham os que queimam
igrejas de negros porque, certamente, negros não têm alma. Negros não rezam.
Com sua negritude, os negros sujam a branquitude das orações... A mim me dá
pena e não raiva, quando vejo a arrogância com que a branquitude de sociedades
em que se faz isso, em que se queimam igrejas de negros, se apresenta ao mundo
como pedagoga da democracia. Pensar e fazer errado, pelo visto, não têm mesmo
nada que ver com a humildade que o pensar certo exige. Não têm nada que ver com
o bom senso que regula nossos exageros e evita as nossas caminhadas até o
ridículo e a insensatez.