domingo, 2 de janeiro de 2022

Senhora do Nilo

Ruanda, pequeno país no centro da África, é a terra dos tutsis, dos hutus, dos batwas. Explorado inicialmente pelos alemães e posteriormente pelos belgas na sanha colonialista européia de dois séculos, Ruanda foi palco de um dos mais vergonhosos episódios ocorridos no século XX: o massacre de mais de oitocentas mil pessoas. No livro "Nossa Senhora do Nilo" (Notre-dame du Nil) a escritora Scholatique Mukasonga conta a história de estudantes de um colégio tradicional onde as moças pertencentes à alta sociedade são educadas na tradição cristã, tendo como referência cultural a Europa e a língua francesa. E como pouco a pouco, os adivinhos da chuva, os detentores dos segredos das ervas e da floresta, os velhos que conhecem os encantos e encantamentos vão desaparecendo, substituídos pelos valores ocidentais. 

"A irmã Lydwine era professora de história-e-geografia, mas ela fazia uma distinção clara entre as duas disciplinas: segundo ela, a história se referia à Europa, a geografia, à África. (...) Para a África, não havia história, pois os africanos não sabiam ler nem escrever antes de os missionários trazerem as escolas para cá. Além disso, foram os Europeus que descobriram a África e a colocaram na história. E, se houve reis em Ruanda, seria melhor esquecê-los, pois hoje em dia vivíamos em uma República. Na África, havia montanhas, vulcões, rios, lagos, desertos, florestas e até algumas vilas. Bastava decorar os nomes e saber situá-las no mapa: Kilimandjaro, Tamanrasset, Karisimbi, Tombouctou, Tanganyika, Muhabura, FoutaDjalon, Kivu, Ouagadougou..."