Tagore
'De onde vim? De onde me trouxeste?', perguntava o menino à sua mãe.
Ela respondeu, chorando e rindo ao mesmo tempo, apertando o filho ao colo: Querido, estavas escondido em meu coração, eras o meu desejo! Estavas nas bonecas dos meus brinquedos de menina, e quando, todas as manhãs, eu fazia com areia a imagem do meu Deus, eu também modelava a tua.
Estavas com o Deus de nossa casa dentro do nicho e eu te adorava.
Estavas em todas as minhas esperanças, em todo o meu amor, em toda a minha vida, na vida de minha mãe.
No ventre do Espírito protetor de nosso lar, estiveste durante muitos anos.
Quando em minha mocidade o meu coração abriu as pétalas, tu esvoaçavas em torno como um perfume.
O teu doce e delicado crescimento era como um esplendor celeste, antes da aurora.
Meu querido, gêmeo da luz matutina, vagaste seguindo a correnteza da vida, até que ancoraste em meu coração.
Quando vejo a tua face, vejo nela mistérios que me dominam. Tu que pertences a tudo, és meu agora.
Receio perder-te. Por isso te trago e aperto em meu colo. Que magia atraiu para os meus braços o tesouro do mundo?
* Esta pequena obra prima de Tagore foi publicada em seu livro Lua Crescente.