terça-feira, 15 de janeiro de 2019

A delicadeza da rosa

Há exatos cem anos grupos paramilitares alemães assassinavam Rosa Luxemburg, filósofa marxista, antimilitarista e uma das fundadoras do Partido Comunista da Alemanha. Para lembrar a efeméride, reproduzo um texto de Florbela Espanca, apresentando a delicadeza e a força de rosas nascidas em uma charneca árida.

CHARNECA EM FLOR
Florbela Espanca

Enche o meu peito, num encanto mago,
O frêmito das coisas dolorosas...
Sob as urzes queimadas nascem rosas...
Nos meus olhos as lágrimas apago...

Anseio! Asas abertas! O que trago
Em mim? Eu oiço bocas silenciosas
Murmurar-me as palavras misteriosas
Que perturbam meu ser como um afago!

E Nesta febre ansiosa que me invade,
Dispo a minha mortalha, o meu burel,
E, já não sou, Amor, Soror Saudade...

Olhos a arder em êxtases de amor,
Boca a saber a sol, o fruto, a mel:
Sou a charneca rude a abrir em flor!