terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

A Confraria de 1984

George Orwell, pseudônimo do britânico-indiano Eric Arthur Blair, abordou em várias de suas histórias o poder tal como ele conseguia vê-lo em sua época. Muitos dos escritos continuam atuais. Fazemos uma leitura e enxergarmos o Grande Irmão, um supra-poder que comanda o executivo, o legislativo e o judiciário, que dá prêmio a juízes, que convoca passeatas, que esconde grandes traficantes e criminaliza mendigos, que transforma cidadãos em bandidos e bandidos em santos, que domina, em resumo, todo o discurso no país, estando onipresente nas casas, clínicas, escritórios e fábricas. E a Confraria, uma humilde resistência que tenta se contrapor ao Grande Irmão, que é execrada pela mídia, pelo judiciário, pelos órgãos de repressão do Estado, pelo grande capital, vivendo escondida em ambientes virtuais, pelos becos escuros ou sob tortura nas celas úmidas das masmorras. A seguir, um pequeno trecho de 1984, uma das principais obras de Orwell.  

"A confraria não pode ser liquidada porque não é uma organização no sentido usual do termo. Nada além da ideia de que é indestrutível a mantém ativa. Vocês jamais contarão com nenhum outro alento além dessa ideia. Não experimentarão camaradagem nem encorajamento. Quando por fim forem apanhados, não receberão nenhuma ajuda. Nunca ajudamos nossos membros. No máximo, quando é absolutamente necessário que alguém seja silenciado, às vezes conseguimos introduzir às escondidas uma navalha na cela do prisioneiro. Trabalharão por algum tempo, serão presos, confessarão e depois morrerão. São esses os únicos resultados que haverão de testemunhar. Não há a menor possibilidade de que ocorram mudanças perceptíveis em nossa geração. Nós somos os mortos. Nossa única vida genuína repousa no futuro. Participaremos dela na condição de pó e fragmentos ósseos. Não há, porém, como saber quanto tempo decorrerá até o advento desse futuro. Talvez mil anos. No momento, nada é possível, exceto ampliar pouco a pouco a área de sanidade. Não temos como agir coletivamente. Só podemos disseminar nosso conhecimento de indivíduo a indivíduo, geração após geração. Com a Polícia das Ideias, não há outra saída."

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