sexta-feira, 6 de julho de 2018

Pesadelo

Vivemos um tempo sombrio, parece que estamos imersos em um pesadelo horroroso. O governo traidor e golpista, incompetente para resolver os problemas mais simples da população, destruiu os avanços que haviam sido conseguidos no período dos treze anos anteriores. Uma série de ações mostram a destruição do bem estar social como a reforma trabalhista, o fim do Programa Farmácia Popular, o fim do Programa Mais Médicos, o lucro imoral do Banco Itaú e o perdão de sua sonegação bilionária, a liberação de agrotóxicos que estão banidos há muito tempo da maioria dos países... Outras ações são claramente atos de lesa-pátria, que merecerão análises futuras: a dispensa de pagamento de impostos por petroleiras estrangeiras da ordem de 1 trilhão de reais nos vinte próximos anos, a entrega de boa parte dos campos de produção de petróleo do Pré-Sal a estas mesmas empresas, a tentativa de privatizar o sistema Eletrobrás, a entrega da base de lançamento de foguetes de Alcântara, a venda de 80 % da Embraer... São pesadelos que são acrescentados dia a dia por novas desagradáveis surpresas. Nesse ambiente de penumbra um dos poucos alentos é a literatura. Lembrei-me, então, de uma passagem de "A prisioneira" a quinta parte da obra Em busca do tempo perdido de Marcel Proust. Essa passagem refere-se aos dias que antecedem a morte do grande escritor Bergotte, quando insônias e pesadelos o assolam diariamente.

"Nos meses que lhe precederam a morte, sofria Bergotte de insônias, e o que é pior, logo que adormecia, de pesadelos, por causa dos quais despertava, fazia por não readormecer (...) Quando antes falava de pesadelos, entendia por isso coisas aborrecíveis que se passavam dentro de seu cérebro. Agora era como vindos de fora que sentia a mão munida de um esfregão molhado, a qual, passada na cara dele por uma mulher má, se empenhava em despertá-lo ou cócegas intoleráveis nos quadris ou a raiva de um cocheiro que, furioso por ter Bergotte murmurado no sono que ele guiava mal, investia contra o escritor e lhe mordia os dedos, os serrava. Enfim, logo que se lhe fazia no sono escuridão suficiente, procedia a natureza a uma espécie de ensaio, sem indumentária, do ataque de apoplexia que o havia de matar: Bergotte entrava de carro no pórtico da nova residência dos Swann, queria apear-se. Uma vertigem fulminante pregava-o ao banco, tentava o porteiro ajudá-lo a descer, mas ele permanecia sentado, incapaz de se levantar, de se aprumar nas pernas. Procurava agarrar-se ao pilar de pedra que havia perto, mas não encontrada nele apoio bastante para se pôr em pé."


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