quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Destino de Édipo

Édipo Rei, tragédia de Sófocles, é considerada por Aristóteles como a obra prima da tragédia grega. O tema de Édipo foi abordado ainda por Sófocles em “Édipo em Colona” e “Antígona” e também pelos outros dois grandes poetas trágicos gregos: Ésquilo, na peça “Sete contra Tebas” e Eurípedes, na peça “As fenícias”. A história de Édipo começa com uma maldição do rei Pélope, de Elida, sobre o pai de Édipo, Laio. Este último volta para Tebas e se casa com Jocasta, vivendo uma vida feliz e tranqüila. Entretanto, a maldição de Pélope não sai da cabeça de Laio, que então consulta o Oráculo de Delfos. O Oráculo revela que se Laio tiver um filho, por ele será assassinado, e este ainda casará com sua mulher. Apesar de todos os cuidados, o casal tem um filho, Édipo, e para evitar a maldição predita pelo Oráculo, abandona a criança recém nascida na floresta com os pés amarrados. Um pastor o encontra e o leva a Corinto, onde o rei Políbio o cria como filho legítimo. Mas quando adolescente desconfia que talvez não seja filho legítimo do rei de Corinto e para tirar a dúvida consulta o Oráculo de Delfos que assevera: “tu matarás o teu pai e desposará a tua mãe.” Para fugir do seu destino, acreditando ser filho de Políbio, Édipo sai de Corinto e refugia-se em Tebas. Entretanto, no caminho, por causa de uma discussão, ele mata um senhor e o seu cocheiro. Aqui, parte da profecia se cumpre pois o senhor era Laio, o seu pai. Na entrada da cidade de Tebas havia um monstro, metade mulher e metade leão – a Esfinge – que devorava a todos que não conseguissem decifrar um enigma proposto por ela. Por causa disso o governante de Tebas oferecera um prêmio a quem decifrasse o enigma: o trono e a mão da viúva, rainha Jocasta. A Esfinge desafia Édipo: “Qual é o animal que de manhã tem quatro pés, ao meio dia dois e à tarde três?” Édipo: “O homem, pois na infância engatinha, quando adulto anda, e na velhice tem o auxílio de um bastão”. A Esfinge reconhece a correção da resposta e se joga de um penhasco. Édipo é declarado rei e passa a viver com Jocasta, de cujo casamento nascem quatro filhos: Etéocles, Polinices – cuja luta fraticida futura é descrita por Ésquilo e Eurípedes – Ismênia e Antígona. Tebas prospera sob a égide do filho de Laio, mas aparece uma peste que dizima homens e animais a rodo. Para saber a razão da fúria dos deuses, Édipo envia o seu cunhado, Creonte, ao Oráculo de Delfos. Neste ponto da história começa a peça “Édipo Rei”. Creonte retorna dizendo que a peste é devida ao fato de Tebas estar abrigando o assassino do rei Laio. Édipo, então, exige que o assassino seja descoberto. Inicia-se uma investigação e Édipo chama o advinho Tirésias que após muita insistência do rei afirma “és tu o assassino que procuras”. Édipo acredita que isso seja parte de um complô entre Tirésias e Creonte, mas as informações de dois pastores que acharam o pequeno Édipo no bosque e o entregaram ao rei de Corinto, revela toda a verdade. Após a revelação o coro, representando o sussurro dos deuses, é incisivo:



Ô geração de mortais, a vossa vida e o nada em igual conta eu tenho. Quem já conheceu felicidade que não fosse apenas de parecer feliz, para recair na treva, finda aquela doce ilusão? Diante de seu destino de amargura, ó Édipo, posso afirmar que não há felicidade para os humanos.”



Ato contínuo à revelação, Jocasta se mata e Édipo fura os próprios olhos e se retira da cidade. Antes do exílio, porém, acontece uma das partes mais comoventes de toda a tragédia: é quando Édipo se despede de suas filhas Ismênia e Antígona:



Mas minhas infelizes filhas, ainda inocentes, que sempre sentavam no meu colo, à mesa, dividindo o alimento que para mim se preparava, oh! Eu te peço Creonte, tem piedade delas! Consente que eu possa ainda afagá-las, e que ainda deplore com elas a nossa desdita! Eu te suplico, ó rei nobre e generoso! Se puder tocá-las com as mãos, será como se as visse, como quando as via realmente... Mas... que digo eu? Creio ouvir, ó deuses! O choro de minhas filhas!... Creonte, por compaixão de mim é que mandaste vir minhas filhas queridas?



Entram Antígona e Ismênia, ainda crianças, guiadas por uma serva. Aproximam-se do pai.



Édipo: (...) E meus olhos sem luz têm muitas lágrimas por vós, a quem não mais verei, e pelas agruras que tereis de sofrer pela vida afora... A que reuniões, a que festas podereis comparecer, sem que tenhais de voltar em prantos, impedidas de freqüentá-las? E atingida a idade florida do casamento, quem será o noivo corajoso o bastante que suporte as infâmias, eterno flagelo para vós e para a vossa prole? Que maior infâmia poderá haver do que esta: vosso pai matou o próprio pai, fecundou o seio que o concebeu, e deste consórcio nascestes vós. Assim serão as injúrias que vos atirarão ao rosto... Quem vos quererá por esposa? Certamente ninguém, minhas filhas! Tereis de viver na solidão e na esterilidade. Só tu, Creonte, será doravante, como um pai para elas – pois sua mãe e eu, que as geramos, já não viveremos! Não permitas que elas vagueiem, mendigas; não consintas que sua sina se agrave pelo peso de minhas culpas! Tens pena delas, Creonte: tão jovens e tão desvalidas, exceto pelo teu apoio. Que tua generosidade dê um sinal de assentimento! E vós, minhas filhas, se tivesses idade para me compreender eu teria muitos conselhos para vós; por ora, orai sempre para encontrar um lar, e que vosso destino seja mais feliz que o de vossos pais!


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