sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Pobres navegantes

Os navegantes que vão e voltam trazendo e levando mercadorias e lembranças, descansam quando chegam a uma cidade como Isadora, descrita com maestria por Calvino. Mas o tempo passou e nos vários giros que o mundo deu, a memória se esforçou para reter a recordação de uma certa Aurélia, sonhada por Labrunie, numa noite em que dúvidas amargas o mostraram que "a árvore da ciência não é a árvore da vida"; ou deliciosas lembranças de uma viagem em que a adorável Carlota conseguiu a cura de uma grave doença. Pobres navegantes... ficaram apenas delicadas lembranças.

"(...) a me lembrar das longas viagens em que seu pensamento me seguiu: uma rosa colhida nos jardins de Chubrá, um pedaço de friso trazido do Egito, folhas de loureiro colhidas num rio de Beirute, pequenos cristais dourados, mosaicos de Santa Sofia, uma conta de rosário (...)" Geràrd de Nerval, Aurélia.

"O barco que ali atraca com uma carga de gengibre e algodão zarpará com a estiva cheia de pistaches e sementes de papoula, e a caravana que acabou de descarregar sacos de noz-moscada e uvas passas agora enfeixa as albardas para o retorno com rolos de musselina dourada." Italo Calvino, As cidades invisíveis.

"Trouxemos das nossas peregrinações um raio de sol do Oriente, um reflexo de lua de Nápoles, uma nesga do céu da Grécia, algumas flores, alguns perfumes, e com isto enchemos o nosso pequeno universo." José de Alencar, Cinco Minutos.

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