sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Mais Mucuripe

Mais dois poemas de Artur Eduardo Benevides, que agora em 2013 completa 90 anos, no seu belíssimo livro "Noturnos de Mucuripe & Poemas de Êxtase e Abismo" (Casa José de Alencar, Universidade Federal do Ceará, 1996).

FIDELIDADE

Altas horas já são. O aracati passou.
Já vai rumo ao sertão. E em mim ficou
a lembrança sutil de seus desvelos
afagando-me os olhos e os cabelos.
Os cabelos que em vão envelheceram
ou, pobres folhas ao vento, se perderam.
Mas, nas idades todas, fui fiel
a esse mar belíssimo e revel
que vejo em devoção
qual destino, estigma ou canção.
E refaço mil vezes minha viagem,
marinheiro que fui sem marinhagem,
sendo, a cada instante,
do mar de Mucuripe um tripulante.

A LANTERNA DO TEMPO

Toda beleza é solitária e triste.
Tudo, em saudade, é regressante e belo.
E Mucuripe - ave sem vôo - insiste
em ser em nós um doce ritornelo.
Ou talvez uma praia transcendente.
Uma andarilha de face resplendente
que aqui parou e se tornou eterna.
Ou acende, nas noites, a lanterna
do tempo inconquistado.
E o recordar é um vasto noviciado.
No dorso das horas, a morte vai andando.
E nós, em sonho, e mágoa, e dor, e sempre - amando!
Como agora, sob a paz dessa brisa
que vem com mãos de lã e nos suaviza.

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