sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Fortaleza descalça

Fortaleza descalça é o título de uma famosa obra do poeta cearense Otacílio de Azevedo, na qual é descrita a cidade no começo do século XX, além de diversos personagens e acontecimentos marcantes da vida da capital nesse mesmo período.

"Quando cheguei em Fortaleza, por volta de 1910, matuto vindo de Redenção, anoitecia. Da janela do trem, através da fumaça lançada em golfadas escuras pela trepidante locomotiva, deslumbravam-me a luz dos combustores a gás. Ao saltar na Estação Central fiquei espantado com a multidão que ali se via; e, mais ainda quando consegui encontrar meu irmão Júlio Azevedo. Tomou-me ele pela mão e levou-me para o Hotel Caninana, ali perto, na rua da Lagoinha, onde passava, pelo meio, o trem.

Toda a praça da Estação, a que servia de fundo a fábrica Proença, era literalmente cheia de carroças e uma pirâmide de achas de lenha, mal se podendo se distinguir a estátua do General Sampaio.

[...] Na ânsia de mostrar-me tudo, Julio entrava aqui e ali, saltava imensas soleiras de calçadas desiguais. Vimos cafés, lojas, bilhares, restaurantes e longas avenidas. Muitas vezes assustava-me pensando que estávamos perdidos."

(...) "Moça pobre mas vaidosa, Fortaleza ensaiava os primeiros passos nos caminhos do comércio internacional, passando da renda de almofada para a renda francesa, mandando buscar os melhores figurinos de Paris, casemira da Inglaterra, usando manteiga "Le Pelletier" e "Betel Frères" - enfim, procurando divertir-se e mostrar-se nos saraus e festas, cinemas e igrejas. Pobrezinha descalça, ainda, mas já sonhando com os primeiros calçados de pedra - o calçamento desigual e áspero, prenunciando as ricas futuras sandálias de asfalto..."

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