quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Sibéria maravilhosa

A Sibéria é uma das mais inóspitas regiões do planeta. Entretanto, frente a alternativa de se viver numa prisão na Sibéria do século XIX, uma aldeiazinha nesta região gelada é um verdadeiro paraíso. Ou seja, entre a reclusão numa prisão siberiana e a vida humilde numa pequena aldeia, esta última alternativa é absolutamente maravilhosa. É assim que nos mostra Dostoiévski na Introdução de sua "Memórias da Casa dos Mortos":

"Os funcionários, que na realidade desempenham o papel da nobreza siberiana, são indígenas, siberianos de origem ou vindos da Rússia, na sua maior parte da capital, seduzidos pelo ordenado certo, o pagamento dobrado e as sedutoras ilusões para o futuro. Entre eles, aqueles que conseguem decifrar o enigma da vida, quase sempre ficam na Sibéria e aí se fixam com prazer. Depois acumulam riquezas, recompensas saborosas. Mas os outros, gente desorientada e que não sabe penetrar o enigma da existência, depressa se cansam da Sibéria e a si próprios perguntam tristemente qual o motivo por que foram atraídos para aí. Aguardam com impaciência o fim estipulado do seu serviço, - três anos - pedem imediatamente a transferência e regressam a suas casas, falando mal da Sibéria e troçando dela. Não têm razão, pois não só do ponto de vista do serviço, como em muitos outros, se pode abençoar a Sibéria, que tem um clima excepcional, é notável pelos seus ricos e hospitaleiros mercadores e pelos seu dignos habitantes. As moças têm uma linda cor e são muito honestas. As aves de caça voam pelas ruas e vão cair nas mãos do caçador. O champanha bebe-se mais do que se deve. O caviar é maravilhoso. Em algumas fazendas tiram-se cinco colheitas... De maneira geral, a terra é de  uma fertilidade espantosa. O que é preciso é saber aproveitá-la. E na Sibéria sabem fazê-lo."

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