A Sibéria é uma das mais inóspitas regiões do planeta. Entretanto, frente a alternativa de se viver numa prisão na Sibéria
do século XIX, uma aldeiazinha nesta região gelada é um verdadeiro
paraíso. Ou seja, entre a reclusão numa prisão siberiana e a vida
humilde numa pequena aldeia, esta última alternativa é absolutamente
maravilhosa. É assim que nos mostra Dostoiévski na Introdução de sua
"Memórias da Casa dos Mortos":
"Os
funcionários, que na realidade desempenham o papel da nobreza
siberiana, são indígenas, siberianos de origem ou vindos da Rússia, na
sua maior parte da capital, seduzidos pelo ordenado certo, o pagamento
dobrado e as sedutoras ilusões para o futuro. Entre eles, aqueles que
conseguem decifrar o enigma da vida, quase sempre ficam na Sibéria e aí
se fixam com prazer. Depois acumulam riquezas, recompensas saborosas.
Mas os outros, gente desorientada e que não sabe penetrar o enigma da
existência, depressa se cansam da Sibéria e a si próprios perguntam
tristemente qual o motivo por que foram atraídos para aí. Aguardam com
impaciência o fim estipulado do seu serviço, - três anos - pedem
imediatamente a transferência e regressam a suas casas, falando mal da
Sibéria e troçando dela. Não têm razão, pois não só do ponto de vista do
serviço, como em muitos outros, se pode abençoar a Sibéria, que tem um
clima excepcional, é notável pelos seus ricos e hospitaleiros mercadores
e pelos seu dignos habitantes. As moças têm uma linda cor e são muito
honestas. As aves de caça voam pelas ruas e vão cair nas mãos do
caçador. O champanha bebe-se mais do que se deve. O caviar é
maravilhoso. Em algumas fazendas tiram-se cinco colheitas... De maneira
geral, a terra é de uma fertilidade espantosa. O que é preciso é saber
aproveitá-la. E na Sibéria sabem fazê-lo."
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