sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Fragmentos de Maiakovski

Enquanto os contentes bebem os seus maravilhosos chás das cinco, Maiakovski penetra por debaixo da porta e desarruma a sala repleta de riquíssimos cacarecos... Dois poemas do mestre Vladimir Maiakovski.


E então, que quereis?...
 
Fiz ranger as folhas de jornal
abrindo-lhes as pálpebras piscantes.
E logo
de cada fronteira distante
subiu um cheiro de pólvora
perseguindo-me até em casa.
Nestes últimos vinte anos
nada de novo há
no rugir das tempestades.

Não estamos alegres,
é certo,
mas também por que razão
haveríamos de ficar tristes?
O mar da história
é agitado.
As ameaças
e as guerras
havemos de atravessá-las,
rompê-las ao meio,
cortando-as
como uma quilha corta
as ondas.




 A esperança

Injeta sangue no meu coração,
enche-me até o bordo das veias!
Mete-me no crânio pensamentos!
 Não vivi até o fim o meu bocado terrestre,
sobre a terra não vivi o meu bocado de amor.
Eu era gigante de porte, mas para que este tamanho?
Para tal trabalho basta uma polegada.
Com um toco de pena, eu rabiscava papel,
num canto do quarto, encolhido,
como um par de óculos dobrado dentro do estojo.
Mas tudo que quiserdes eu farei de graça:
esfregar,
lavar,
escovar,
flanar,
montar guarda.
Posso, se vos agradar, servir-vos de porteiro.
Há, entre vós, bastante porteiros?
Eu era um tipo alegre, mas que fazer da alegria,
quando a dor é um rio sem vau?
Em nossos dias, se os dentes vos mostrarem não é senão para vos morder ou dilacerar.
O que quer que aconteça, nas aflições, pesar...
Chamai-me! Um sujeito engraçado pode ser útil.
Eu vos proporei charadas, hipérboles e alegorias,
malabares dar-vos-ei em versos.
Eu amei... mas é melhor não mexer nisso. Te sentes mal?

Nenhum comentário:

Postar um comentário