sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Mucuripe

O Mucuripe ficou nacionalmente conhecido em virtude da música homônima da dupla Fagner e Belchior. Mas além da referida dupla, Mucuripe inspirou diversos escritores e poetas por causa de sua beleza: o pôr do sol, as jangadas e os pequenos barcos que descansam na enseada, o passeio pelo moderno calçadão, o namoro debaixo dos coqueiros e a sessão de poesias... Para matar um pouco a saudade, dois poemas de Artur Eduardo Benevides, retirados do seu livro Noturnos de Mucuripe. 

MISTÉRIO
Fiquemos neste bar. Serve-se aqui
a solidão em brisa.
A solidão – imenso javali
em que o eterno, à noite, se improvisa.
De repente, quem sabe, a Bem-Amada,
Pode chegar, trazendo a madrugada.
E Mucuripe todo é só mistério.
É música antiga de saltério,
a recompor as mágoas da balada.
Mas, saudamos o mar com um bom clarete.
Passa por nós, valsante, um vilancete.
E mordemos a espiga da esperança.
Ou dançamos, do sonho, a contradança.
E sorrimos, esquivos,
lembrando o luar em vãos recitativos.

UM SUSPIRAR. UMA CANÇÃO DE AMOR
Mucuripe é verso e grã necessidade.
Como a água. O sol. O sono. A liberdade.
E minha vida de poeta estaria incompleta
se eu aqui não morasse, onde nasce
essa imensa canção.
A canção de quem abre o coração
ou pede à Amada para usar uma rosa
e assim ficar mais leve ou misteriosa
em qualquer estação.
Nas noites de lua cheia
escrevo o nome da ingrata sobre a areia.
Como outrora o faria
no azul da seresta, pranto de poesia,
quando algum violão solitário
lembrasse – A Pequenina Cruz de Teu Rosário.
E dentro das casas ou sobre o verde-mar
uma brisa soprava, intervalar.
Quem sofre canta, como hoje canto,
das estrelas sentido o alvor do manto.
E muito mais fiel por certo cantaria,
se tanto mais houvera em falas de poesia.

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