Na
pequena Combray, o pequeno Marcel e seus pais tinham opção de fazer
caminhadas vespertinas em dois caminhos diametralmente opostos: um era o
caminho que levava a Méséglise, conhecido como o caminho de Swann; o
outro, era o caminho de Guermantes. Nunca se fazia o passeio no mesmo
dia pelos dois caminhos. Eles eram, de certa forma, complementares. O
primeiro vai marcar a infância do personagem; o segundo vai estar
indissociavelmente ligado à sua adolescência. E os dois caminhos, além
disso, simbolizam as possibilidades abertas ao viajante ao chegar à
bifurcação. Proust assim os descreve:
"Pois havia
nas vizinhanças de Combray dois 'lados' para os passeios, e tão opostos
que não saíamos com efeito pelo mesmo portão, quando queríamos ir para
um lado ou outro: o lado de Méséglise-la-Vineuse, também chamado o lado
de Swann, porque se passava pela propriedade do Sr. Swann quando íamos
para aquelas bands, e o lado de Guermantes. (...) De Guermantes, eu
viria um dia a saber muito mais, mas isso dali a anos e durante toda a
minha adolescência, se Méséglise era para mim qualquer coisa de
inacessível como o horizonte, oculto à vista, por mais longe que se
fosse, pelos acidentes de um terreno que já não se assemelhava ao de
Combray, Guermantes sempre me apareceu com um termo antes ideal que real
de seu próprio 'lado', uma espécie de expressão geográfica abstrata
como a linha do equador, como os pólos, como o oriente. (...) Visto que
meu pai falava sempre do lado de Méséglise como da mais bela vista da
planície que conhecia e do lado de Guermantes como da paisagem típica de
rio, eu lhes dava, concebendo-os assim como duas entidades, essa coesão
e unidade que só pertencem às criações de nosso espírito; a mínima
parcela de cada um me parecia preciosa e cheia de sua peculiar
excelência, ao passo que, em comparação com eles, antes que se chegasse
ao solo sagrado de um ou outro, os caminhos em cujo fim se achavam
pousados como o ideal da vista de planície e o ideal da paisagem de rio
não valiam a pena de ser vistos, como para o espectador apaixonado de
arte dramática as ruas que conduzem ao teatro. (...) E essa demarcação
ainda se tornava mais absoluta, porque aquele hábito que tínhamos de
nunca ir para os dois lados no mesmo dia, em um único passeio, mas uma
vez do lado de Méséglise, outra vez do lado de Guermantes, encerrava-os
por assim dizer longe um do outro, e sem poder-se conhecer, nos vasos
herméticos e incomunicáveis de tarde diferentes."
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