Como nos passeios que o narrador da
"Reserche" dava na beira da praia em Balbec durante a sua adolescência
para tentar rever o grupo de moças que em certos dias aparecia e corria
alegremente entre diversos transeuntes, também fiquei muitas vezes
caminhando numa calçada, apanhando um ônibus num determinado horário,
entrando numa loja de departamentos, indo numa igreja específica, ou
frequentando um certo supermercado, ou ainda, olhando os transeuntes em
frente de casa na esperança de que, como o narrador Marcel, aquela
garota que nos tempos primordiais representava uma beleza indiscutível,
que poderia, quem sabe, a partir de uma improvável troca casual de olhar
se apaixonar e realizar todos os sonhos que tínhamos. Mas isso jamais
aconteceu... Um lento no qual o tempo tendeu para o infinito.
É a questão da causalidade e do desejo que na À sombra das raparigas em flor encontra-se assim exposto:
"O
trabalho de causalidade, que acaba por produzir quase todos os efeitos
possíveis, e por conseguinte também aqueles que havíamos julgado menos
viáveis, esse trabalho é às vezes lento, tornando-se ainda um pouco mais
lento devido ao nosso desejo."
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