Encontra-se
em Combray, talvez neste exato momento, um menino, o pequeno Marcel, a
consumir incansavelmente as suas tardes na leitura de livros de
aventuras. O tempo vai passando e ele não se dá conta da sucessão das
horas que se vão. É o próprio Proust quem nos conta:
"E,
a cada hora, parecia-me fazer apenas alguns instantes que soara a
precedente; a mais recente vinha inscrever-se bem junto da outra no céu e
eu não podia acreditar que sessenta minutos tivessem cabido naquele
pequeno arco azul compreendido entre os dois marcos de ouro. Às vezes
aquela hora prematura dava duas badaladas mais que a última, batera pois
uma hora que eu não tinha escutado, e alguma coisa acontecera que para
mim não tinha acontecido; o interesse da leitura, mágico como um
profundo sono, enganava meus ouvidos alucinados e apagava o sino de ouro
na superfície azul do silêncio. Belas tardes de domingo passadas
debaixo do castanheiro do jardim de Combray, que eu cuidadosamente
esvaziava de incidentes medíocres de minha vida pessoal, pondo em seu
lugar uma vida de aventuras e aspirações estranhas, no seio de um país
regado de águas vivas (...)"
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