domingo, 19 de janeiro de 2014

Um menino sob o castanheiro

Encontra-se em Combray, talvez neste exato momento, um menino, o pequeno Marcel, a consumir incansavelmente as suas tardes na leitura de livros de aventuras. O tempo vai passando e ele não se dá conta da sucessão das horas que se vão. É o próprio Proust quem nos conta:

"E, a cada hora, parecia-me fazer apenas alguns instantes que soara a precedente; a mais recente vinha inscrever-se bem junto da outra no céu e eu não podia acreditar que sessenta minutos tivessem cabido naquele pequeno arco azul compreendido entre os dois marcos de ouro. Às vezes aquela hora prematura dava duas badaladas mais que a última, batera pois uma hora que eu não tinha escutado, e alguma coisa acontecera que para mim não tinha acontecido; o interesse da leitura, mágico como um profundo sono, enganava meus ouvidos alucinados e apagava o sino de ouro na superfície azul do silêncio. Belas tardes de domingo passadas debaixo do castanheiro do jardim de Combray, que eu cuidadosamente esvaziava de incidentes medíocres de minha vida pessoal, pondo em seu lugar uma vida de aventuras e aspirações estranhas, no seio de um país regado de águas vivas (...)"

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