sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Pobre Simoésio

Na Ilíada, as batalhas são corpo a corpo. Espadas, lanças e flechas são as armas. Escudos e broquéis são a defesa. E as mortes são em número assustador. Homero as descreve a dezenas de uma forma tal que a bravura dos heróis, Aquiles, Odisseu, Ájax, Eneas, Heitor, entre outros, se destaca. Abaixo um trecho belíssimo que mostra que a morte de um quase anônimo soldado será motivo de grande tristeza para sua família. Embora seja apenas uma unidade no meio de milhares, uma vida tem sempre uma grandeza embutida, e pode se acabar estupidamente numa guerra. Homero, na bela tradução de Haroldo de Campos, em outro momento de grande literatura:

"Ájax, o Telamônio, vulnera Simoésio,
filho de Antemion, jovem no florir da vida,
a quem a mãe, descendo do alto do monte Ida,
com os pais, para junto dos rebanhos, dera
à luz, perto do rio Simoento; daí, seu nome.
Não pode retribuir o cuidado dos pais,
a vida lhe foi curta. Ájax, sempre-ardoroso,
o dobrou. Com a lança transpassou-lhe o peito,
à altura do mamilo direito; varou-lhe
a espádua a ponta brônzea e rojou-o no pó.
Qual um álamo negro dos confins de um pântano,
que ergue o tronco brunido e alteia a copa e as ramas
até que um artesão de carros com luzente
lâmina o abata, para as rodas de uma biga
esplêndida encurvar; e ele tomba e dessora
à beira-rio; assim, sob Àjax, Simoésio."

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